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sábado, 16 de abril de 2011

A morte de Luciano Huck

Pararam as máquinas. Novas manchetes vieram a caminho. Pois nosso sonho acabara de acabar. Por quê? Porque acabara de morrer o idealizador dele. Os açougues fecharam. As papelarias também. A televisão fez luto com homenagens de uma semana inteira. Os jornais faziam retrospectiva da sua vida. Ruas mudaram de nome para homenageá-lo. A comunidade judaica ficou de luto por um ano. A católica também. A protestante idem. O mesmo fizeram a Umbanda e o Candomblé. Garotinhas e garotinhos colocavam os dizeres LUTO entre colchetes ao lado de seus nomes no orkut (sempre acompanhados de alguma foto na balada, é claro).

Depois disso o país se afundou numa crise. As escolas pioraram de vez(afinal, não saber soletrar palavras desconhecidas como 'lexicologia' é uma coisa inaceitável no século 21), o governo do estado do Rio perdeu toda a credibilidade e a polícia passou a ser corrupta e injusta. Todas as políticas sociais foram por água abaixo. A tevê passou a ficar um saco sábado a tarde. A internet nunca mais foi a mesma. O "Quer ficar com a perna grossa?" não tinha mais assunto para fazer publicações.

No plano internacional, milhões de trabalhadores ficaram desempregados nos Estados Unidos. Barack Obama ficou mais perdido que cego em tiroteio, os bancos faliram, os acionistas internacionais desnorteados. Eike Batista abriu mão de tudo o que tinha.

O povo perdeu toda a esperança de ter sua casa reformada ou de aparecer em rede nacional e receber a incrível quantidade de 10 mil reais. Criamos um novo mártir. Os valores da família brasileira se desvirtuaram. As capas Veja não falavam mais de gente que faz o bem. A especulação imobiliária destruiu ambientes naturais. Ninguém mais sabia o que fazer

Ou seja, não mudou muita coisa. E apesar de tudo, ele só era mais um global sem nada a acrescentar.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Mar de Abril

Há um ano atrás eu saí de uma aula de Antropologia (com a Gláucifer) na minha querida e longínqua Universidade Federal Fluminense e não fazia a menor idéia do que estava acontecendo. Saí em direção ao centro de Niterói e me deparei com diversos pontos de alagamento. Nada de anormal para uma cidade caótica como essa. Só me dei conta do estrago que havia ocorrido quando cheguei no terminal de ônibus da Praça XV na companhia do meu amigo e colega de curso Caio Charles e vi uma quantidade anormal de pessoas para o horário. Olhei pro 349 e via gente no ônibus com a cabeça pro lado de fora da janela. Pensei "Que porra é essa? O fim do mundo?" Fiquei meio desnorteado, sem saber o que fazer ou pra onde ir, até que consegui dormir na casa de uma tia que mora perto do centro do Rio. Meu problema não durou mais de duas horas. Mas mesmo assim foi o suficiente para eu escrever os seguintes (e limitados) versos:

"A chuva caiu
E a cidade toda alagou
E na Avenida Brasil
Todo mundo se afogou

A chuva caiu
E a cidade inteira parou
E na Central do Brasil
O trem superlotou

Todo mundo tá ilhado
Todo mundo, naufragado
E agora, seu Eduardo?

Você que prometeu nos dar a solução
E só fodeu a gente
Aumentando o tarifão

Todo mundo tá ilhado
Todo mundo, naufragado
E agora, seu Eduardo?

É o mesmo perrengue toda vez que chove
E tu com as Olimpíadas tá sempre tão esnobe
E na sua casa não entrou nenhuma gota
Eu espero que você privatize a sua esposa

A chuva caiu
e a Comlurb não passou
E a cidade inteira
num lixão se transformou

A chuva caiu
E ninguém mais acordou
E no dia seguinte
Geral não trabalhou"


Como disse, meu problema não durou mais do que poucas horas. No entanto, os verdadeiros prejudicados sofrem há um ano. Na verdade, há muito mais tempo que isso. Sofrem com a criminalização das suas lutas, com a falta de moradia adequada, assistência na saúde, e principalmente da falta de respeito por parte dos grupos que governam os seus respectivos municípios e estados. Não aconteceu da pior forma comigo, talvez isso valha pra você também. No entanto, num mundo excludente por 'projeto', não me absteria de uma possível realidade futura para a minha pessoa. E nem para a sua. Abre a porra do olho, caralho!