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sexta-feira, 29 de julho de 2011

Wasting Light


Não é e nunca foi meu forte escrever sobre música. Mas ao ouvir esse disco eu não consegui me conter. Confesso que fiquei surpreso com ele. Muitas bandas que gosto, com o passar do tempo acabam mudando seu estilo musical, por razões óbvias: A música, enquanto vertente da arte, reflete, entre outras coisas, a forma de pensar do artista. E como qualquer ser humano, o artista também muda a sua forma de pensar conforme a acumulação de conhecimento, amadurecimento, a fase de sua vida ou seja lá o que for. Isso acaba gerando mudanças na forma de se expressar, consequentemente. Muitas pessoas criticam essas mudanças, alegando que elas representam fraqueza de personalidade ou algo do tipo. Ora, isso é uma grande bobagem. Tal argumento seria tão absurdo quanto achar que seus pais deveriam agir hoje assim como agiam quando tinham 18 anos. É completamente ilógico.

No entanto, infelizmente o capitalismo encontrou na música uma infinita fonte de reprodução do capital, e apropriou-se dela, tornando a lógica de produção musical extremamente mercadológica e competitiva, o que, em minha humilde opinião, não traz outra coisa à essa arte a não ser a pobreza. Pobreza no sentido de padronizar o que vai ao público, o que acaba gerando uma limitação, e uma concorrência entre os artistas que entram nesse mercado para ver quem vai ser o mais ouvido dentro desse mais do mesmo. E ai, a tal mudança que eu tinha falado pode se dar dentro dessa lógica, o que é perfeitamente passível de críticas, ainda que possa haver uma linha tênue entre as mudanças "mercadológica" e "natural".

O problema é quando a lógica do mercado passa a ser naturalizada. A arte passa a ser feita não como expressão do sentimento/pensamento do artista, e sim com o intuito único de se ganhar dinheiro, como se a arte tivesse sido inventada apenas com o advento da revolução industrial. Algo absurdo. Limitação de mentalidade, o que se reflete na arte propagada pelo mainstream, o que é reforçado por salvadores da nação, como o super gênio da internet, o senhor excelentíssimo Felipe Neto, que tem sua cueca cheirada mentalmente por 70% da jovem classe média brasileira (para o bonitão revoltado de óculos escuros, artista vendido é sinônimo de artista bom).

Enfim, dei essa volta toda pra falar do novo disco do Foo Fighters. Banda que existe desde 1995, famosa pra caralho, já ganhou Grammy e o caralho a quatro, já lançou sete álbuns de estúdio, um Greatest Hits e um álbum ao vivo. Desde o primeiro álbum, a banda fez um som reconhecido pela autenticidade, um Rock que até hoje não se encaixa perfeitamente em nenhuma Tag do Last.fm. O Foo Fighters ficou famoso graças a músicas completamente distintas umas das outras, como Best Of you, Everlong, DOA, All My Life e Learn to Fly e teve álbuns com grande número de vendas. Mesmo assim, não foi vedete da mídia, não esteve presente nas festas, não é alvo de fofoquinha nos tablóides, etc. Exemplo de arte que não se enquadra no status quo. E ainda assim os caras enchem a bufa de dinheiro fazendo música. Não me entendam mal. Não recrimino o fato de um artista ficar rico com sua arte. Acho louvável até. Só não acho que a arte deve ser feita com base no dinheiro, porque artista vendido é artista pobre (intelectualmente), sem nada a dizer, é aquele que abaixa a cabeça pra tudo o que manda a gravadora, ou seja, que se submete a ditadura do dinheiro, simplesmente por não ter o que falar. Essa banda tem o que dizer, ficou claro por esse álbum que estou recomendando a vocês. Pra quem acha que é "natural que se venda", essa é uma bela resposta de uma banda que está na ativa há 16 anos.

O álbum foi gravado na garagem de Dave Ghrol e somente com o uso de equipamentos analógicos. As melhores faixas são White Limo (GOOOOOOOOOOOOO LIMOOOOOOOOOOOOOOO), Bridge Burning, These Days e Dear Rosemary. Pra quem conhece a banda de longa data, aposto que ficarão agradavelmente surpresos. O Foo Fighters mudou mas continua foda em sua essência. Pra quem não conhece e tá afim de ouvir um bom rock, também é uma escolha boa.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Vamos marchar?

Foi capa na revista Carta Capital há um tempo atrás a série de protestos que rolaram em várias capitais do país. As mais comentadas foram a Marcha das Vadias (do termo Slutwalk, em inglês) e a Marcha da Liberdade.

Eu estive na segunda. Muita gente a associou à conhecida Marcha da Maconha, uma vez que muitos de seus manifestantes carregavam cartazes com dizeres favoráveis a descriminalização da droga. Além disso, diversos coros de cunho bem humorado e provocativo foram enunciados pelo mesmo propósito.

Como todo protesto que vai à rua tem a sua repercussão, não deixou de ser diferente com esse. E como, segundo um amigo meu "brasileiro é foda", sempre tem um filho da puta que não se presta nem a ouvir ou ler direito sobre o assunto pra já sair metendo o malho. Não foi diferente nesse caso, com as famosas declarações do tipo "bando de maconheiro desocupado", "é tudo puta" ou qualquer declaração de cunho pejorativo que tentasse difamar o grupo que se organizou para externar a sua insatisfação. Como consequência, esses 'críticos' pretendem dizer o seguinte: "Sua aspiração é em vão, viva numa ilha auto-suficiente como eu e não será necessário prestar um papelão desses".

Como todo movimento acaba de certa forma gerando um debate, um dos questionamentos mais frequentes frente a essa série de manifestações (leia-se Parada Gay, Marcha da Maconha, Marcha da Liberdade, Marcha das Vadias, etc.) foi a seguinte: "Por que o povo vai à rua para essas marchas, e não mobiliza-se para reivindicar melhorias na saúde e educação públicas, ou para o combate à corrupção?" Uma pergunta parecida a essa fez parte de uma matéria do jornal O Globo. O MST respondeu, mas teve sua resposta ignorada. A declaração do movimento pode ser vista no site do mesmo.

Mas lá vou eu tentar responder (com as minhas devidas limitações) a essa questão. Primeiramente, a população SIM se mobiliza em nome da educação. Os professores da rede estadual do Rio de Janeiro estão em paralisação há mais de um mês e parece que ninguém se deu conta disso. Não é incomum você andar na rua e ver camisetas e/ou adesivos com os dizeres "Operação respeito à educação: Eu apóio." (estratégia de divulgação que eu abomino, mas vá, é por uma causa bacana). Quanto à saúde, confesso que estou por fora. Quanto à corrupção, vejo que qualquer movimento que tem características de descontentamento com a realidade e que caminha para a justiça social, seja de combate a corrupção. O movimento do Corpo de Bombeiros carioca combateu veemente a corrupção do calhorda Sérgio Cabral. O mesmo fazem os docentes. Pagar menos de mil pilas pra essas ocupações e conceder bilhões de isenção fiscal pra um monte de empresa é corrupção sim!

Agora, o mais interessante, é que sobre os movimentos que falei, é conveniente à grande mídia limitá-los a um só tópico. O movimento dos bombeiros não foi só um movimento reivindicando aumento da base salarial da classe, mas sim uma luta por melhoria das condições de trabalho, dignidade e reconhecimento por parte da sociedade e do Estado. A dos professores não é outra coisa senão luta pela educação gratuita, democrática, laica e de qualidade. Quanto às tão criticadas Marchas da Liberdade e das Vadias, afirmo que a primeira foi uma junção de insatisfações: oligopolização da mídia, construção da usina de Belo Monte, homofobia, repressão policial, baixos salários, criminalização dos usuários de drogas e por ai vai. Já a segunda, não foi um aglomerado de putas mostrando os peitos não. Foi uma forma irreverente de se chamar a atenção para uma questão de violência contra a mulher, algo aparentemente retrógrado mas que assola milhares de lares.

Mas e ai, por que não bater diretamente nas teclas de saúde e educação? Bom, é uma ótima ideia. E garanto que os mobilizados acima estariam dispostos a se meter nessa. Resta saber se o setor conservador que atacou os manifestantes (como o senhor Carlos Massa, também conhecido como Ratinho, ou bosta para os entendidos) está disposto a entrar nessa, uma vez que defendeu estas prioridades, em detrimento de "assuntos de vagabundo", como maconha e piranha.