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sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Cotas nas universidades

Vi que muitas pessoas andaram se posicionando em relação ao assunto recentemente, devido a aprovação simbólica no Senado de reserva de 50% das vagas nas universidades para estudantes de colégios públicos. Talvez o que tenha tornado essa medida um pouco mais polêmica é que tal reserva de vagas possui aspectos ligadas ao vago, confuso e já superado conceito de raça. Dessa forma, quem se declarasse negro, pardo ou índio teria direito a cotas.

Minha análise não busca de forma alguma responder a todas as questões que envolvem esse amplo debate. Porém acredito que a forma como ele tem sido feito, principalmente pelas pessoas que se sentiram prejudicadas com tal projeto, carece de um pouco de sensibilidade em relação a realidade politico-econômica do país e possui em demasia pensamentos relativamente individualistas. Um debate que envolve tantos temas complexos não pode, a meu ver, ser vítima de tantos reducionismos ou casos específicos a serem abordados para uma política de amplitude nacional.

Bem, antes de qualquer coisa, eu acredito que qualquer política inclusiva precisa parar de ser vista como privilégio. Se chegamos ao ponto de tomarmos uma medida como essa, é porque: 1- O nosso sistema educacional desvaloriza completamente o ensino publico, em favor de instituições privadas que se beneficiam através das condições precárias das escolas públicas. 2 - O ingresso às universidades e outras instituições federais é altamente excludente.

As razões para tais fatos (grosso modo) se dá pela histórica elitização da educação no Brasil e ao descaso de nossos recentes governantes (recentes aqui me refiro desde a abertura política, levando em consideração que não dava pra esperar muita coisa dos milicos). No entanto, seriam perfeitamente passíveis de melhora em médio e longo prazo caso Dilma e Mercadante se colocassem disponíveis ao diálogo com professores e servidores, e/ou caso 10% do PIB brasileiro fosse destinado à educação pública.

Pode ser que esse sistema de cotas seja uma forma de "mascarar" a péssima qualidade do ensino público brasileiro. Tenho certeza de que elas não seriam necessárias se nosso país fosse menos desigual. Mas fico pensando em como estaria a situação desses jovens cotistas hoje, caso não conseguissem o acesso à universidade. Provavelmente jamais teriam oportunidade semelhante. Vale lembrar também que, por condições econômicas, muitos estudantes de classe média baixa e pobres não conseguem concluir seus estudos no ensino superior.

Podemos achar falhas nesse sistema? Com certeza, e acho que é interessante que ele receba críticas. Mas não consigo acreditar que o meu país seria menos injusto se ele não existisse.

O acesso a universidade está longe de ser dado por mérito. E antes as incertezas de uma política de inclusão estranha, do que a completa ausência dela. Mas não me restam dúvidas de que há muita coisa pra ser acertada caso algum dia quisermos ter uma educação decente.