Total de visualizações de página

domingo, 30 de novembro de 2014

O que toda escola pública deveria ter?

Toda escola pública deveria ter:
1 - Assistentes sociais
2 - Psicólogos
3 - Professores bem remunerados
4 - Diálogo com a comunidade para definir seus paradigmas pedagógicos
5 - Eleições diretas para a direção
6 - Enfermeiros
7 - Diálogo com o conhecimento dos estudantes
8 - Salas de aula minimamente estruturadas.
9 - Bibliotecas minimamente equipadas
10 - Salas de informática.
11 - Laboratórios experimentais
12 - Quadras poliesportivas para a prática de Educação Física
13 - Grêmios estudantis.
14 - Políticas dialogadas de combate a todas as formas de discriminação.
15 - Autonomia pedagógica para os docentes, sem intervenção de avaliações externas padronizadas.
16 - Turmas com um número máximo de estudantes.

Se vocês, caros(as) amigos(as), resolverem visitar alguma escola estadual daqui do Rio de Janeiro, faço o seguinte desafio a vocês: Encontrem quatro desses itens. Apenas quatro, para ser modesto.
Talvez vocês não encontrem nenhum, inclusive.

Mas tenho certeza que um ítem (que não consta na lista) terá muito mais chances de ser encontrado: a Polícia Militar fazendo a "segurança" da escola. Gostaria de ouvir/ler vocês em relação a isso. É inacreditável (na verdade é bem crível) que esta seja a forma com a qual o Governo do Estado lide com as escolas públicas.

Escrevo isso para que a violência promovida via Estado para com os professores grevistas do ano passado não seja esquecida. Escrevo isso para que a violência simbólica exercida diariamente contra os estudantes e profissionais das escolas públicas não sejam naturalizadas. Nada deve parecer impossível de mudar.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Os vagabundos sustentados. Por quem?

Como todo mundo já sabe, Dilma Rousseff foi reeleita presidente do Brasil, na eleição mais acirrada da história do nosso país. Isso, para mim, não é motivo de felicidade alguma. Pelo contrário. Não me entusiasmei nem um pouco com a campanha petista (diferentemente de parte da esquerda), financiada por grandes empresas e apoiada por oligarcas tradicionais. A única coisa que me alivia neste momento é saber que o candidato derrotado era membro de um partido mais elitista que o próprio PT, que o máximo que conseguiu fazer até hoje foi uma leve redistribuição de renda e um aumento no poder de consumo da população de maneira geral. No demais, as históricas estruturas sociais brasileiras permanecem. No entanto, mesmo com o pouquíssimo feito até agora, uma parcela da população brasileira se vê indignada com os benefícios recebidos por muitas pessoas via programas sociais. Em uma das centenas de discussão pós eleição que pude ler no Facebook, um rapaz dizia o seguinte:

"Aproveitem os 4 ultimos anos de mamata social. O ciclo petista vai acabar, enquanto isso, continuo trabalhando para sustentar uma parcela da população extremamente acomodada. Burros não! Burros seriam se votassem no Aecio e perdessem toda essa moleza."

Quando o rapaz se posicionou em relação às pessoas que ele sustenta e são extremamente acomodadas, eu me fiz (e continuo me fazendo) a seguinte pergunta: de quem será que esse cara tá falando? Será que ele se refere aos filhos de seus patrões, que graças à exploração do trabalho dele e da apropriação de grande parte da riqueza que ele produz, conseguem pagar festas luxuosas de aniversário, dar presentes caros no aniversário, carrinho zero quando o pleiba passa na faculdade, 2 cursos diferente de idiomas, o paga o melhor curso pré-vestibular da cidade pro jovem estudar na melhor universidade (sem trabalhar, enquanto isso)? Se formos levar em conta o número de falências declaradas no período FHC, até que faz algum sentido né? Se pensarmos em como o PT foi, é e continuará sendo bonzinho com a classe empresarial, dá pra dizer que seus filhos são vagabundos sustentados pelo governo, ou não?

domingo, 14 de setembro de 2014

Esse texto é só a minha opinião.

Uma tendência muito comum que muitas pessoas encontram para se esquivar de posicionamentos contrários aos seus é utilizar o seguinte argumento: "É só a minha opinião, cada um tem a sua".
Sim, amigo(a), cada um tem a sua opinião. No entanto, por serem "apenas" opiniões, cada tipo de posicionamento tem as suas falhas e os seus acertos. Sendo assim, quando expomos nossos pensamentos, ainda mais em público, estamos sujeitos a recebermos críticas a eles. Coisa mais normal do mundo.

No entanto, percebo que entre muitas pessoas, inclusive pessoas próximas a mim, o uso de tal argumento, que nada mais diz do que o óbvio, tem servido como base para que essas pessoas evitem o debate, numa "lógica" que funciona da seguinte maneira: "Nós pensamos de maneiras diferentes, não podemos debater". Eu gostaria de entender que sentido isso faz. Por isso, faço os seguintes questionamentos:

1) Gente, eu já sou bem crescidinho, já tenho 22 aninhos, e gostaria que vocês me dissessem o seguinte: pessoas com o mínimo de maturidade (e olha que eu me considero imaturo pra caralho) não conseguem debater através de pontos de vista diferentes sem que isso incorra em ofensas ou qualquer coisa do tipo?

2) Para que serve o debate? É para que as pessoas mudem de ideia? Ou para que nós aprendamos no diálogo com o outro? Ou as duas coisas?

Quando eu vejo alguém encaminhando a discussão para o ponto do "é só a minha opinião", eu penso o seguinte:

1° - É óbvio que o que você diz é somente a sua opinião, isso é a coisa mais banal que pode ser dita em uma discussão, uma vez que ninguém é detentor de uma verdade absoluta e objetiva.
2° - Quando alguém recorre a esse discurso, vejo uma tentativa de blindar sua argumentação, como se pelo fato de ser "só a a opinião dele(a)", ele(a) esteja isento de qualquer tipo crítica. ~~Na minha opinião~~ isso mostra nada mais do que uma fraqueza argumentativa, ou seja, falta de sustentação teórica ou empírica no que está sendo dito.

Ou seja, queridos e queridas, quando tivermos as nossas divergências, que geralmente são muitas, por favor não usem mais a retórica do "é só minha opinião". Por quê? Porque eu já sei, todo mundo já sabe, você não precisa dizer. Assuma seu lugar de falar, seu lugar de crítica, ainda que esta seja a mais tacanha possível, e dê a cara a tapa. Assim eu vou aprender contigo e tu vais aprender comigo. Ainda que nós mantenhamos todas as diferenças possíveis. Quando você se torna recluso a isso, não terei outra opção a não ser achar que você:

1) É burro.
2) É preconceituoso
3) É mal intencionado
4 ) Se encontra numa suposta zona de conforto da qual não quer sair (digo suposta porque a maioria dos meus amigos são estudantes e/ou trabalhadores, moradores da periferia de uma cidade localizada na periferia do capitalismo, o que não configura nenhum tipo de privilégio - a não ser que você considere ter uma casa e ter o que comer como privilégio)
5) Todas as opções acima.

Então, por favor, não faça eu ter uma ideia errada sobre você, exponha-se, por favor. Isso é digno de respeito. Quer dizer, pelo menos na minha opinião é, né?

sexta-feira, 11 de abril de 2014

O racista e o manipulado pela mídia

Há alguns anos atrás, tive a oportunidade de fazer uma disciplina com a professora Martha Abreu na qual os estudantes foram incentivados e a desenvolver aulas e projetos pedagógicos de caráter antirracista. Até hoje, nesses meus 4 anos e meio de UFF, foi uma das melhores disciplinas que já cursei e uma das que mais contribuíram para a minha formação enquanto historiador e cidadão, por vários motivos que não cabem aqui explicar. Mas enfim, em umas das intensas e interessantes discussões realizadas durante o curso, muito se leu e se falou que o racismo brasileiro é como se fosse um assassinato sem corpo, ou seja, de difícil identificação. Por quê? Porque o racismo sempre está no outro, nunca em nós. Se eu perguntar para você que está lendo este texto a seguinte pergunta: "você é racista ou já cometeu atos racistas?", a sua resposta provavelmente será "não". No entanto, se a pergunta for "Você conhece alguém que seja racista ou que tenha cometido um ato racista?", as chances da sua resposta ser positiva aumentam razoavelmente. Isso porque nós sabemos que o racismo é crime e algo totalmente repulsivo. Então, não queremos ser associados a quaisquer tipos de práticas racistas porque certamente seremos repreendidos e reprovados. Também aprendemos na escola que a "Raça", em termos biológicos não existe, e tendemos a acreditar que o simples fato de termos isso em mente é suficiente para termos superado a nossa herança maldita da escravidão. Falando em escravidão, também tendemos a acreditar que com o fim dela, quaisquer tipos de tensões raciais deixaram de existir em 1888, ou então que quaisquer atos racistas estejam somente ligados a ela. Infelizmente não é bem assim. Inúmeros estudos sobre o negro no pós-abolição no Brasil mostram que a condição de vida da população negra não melhorou significativamente em termos econômicos e sociais (apesar de não negar o grande avanço que foi o fim da escravidão, obviamente), muito por conta da vinda de imigrantes europeus (num projeto de embranquecimento da população, baseada nas teorias da ciência racialista da segunda metade do século XIX) que passaram a ocupar os melhores postos de trabalho. Enfim, tem muito mais do que isso que eu to falando bem resumidamente. O ponto é: por mais que saibamos que Raças, no sentido biológico da coisa, não existam, a composição da nossa sociedade ainda leva consigo muitas características de uma época em que se acreditava na existência delas. Em outras palavras, o conceito de Raça foi superado, mas o racismo (cultural e estrutural) não.

Mas ai você se pergunta: o que racismo brasileiro e manipulação da mídia tem em comum?
Eu respondo: Tudo.
Por quê? Vamos lá:

Da mesma forma que o racismo no Brasil se dá de maneira velada, onde ninguém admite a sua parcela de culpa, uma forma comum de desqualificar o posicionamento alheio é dizer: "Fulano/a é manipulado/a pela mídia/Globo/Globosta/etc.". E aí eu faço uma pergunta parecida com a que eu fiz acima: "Você, caro/a leitor/a, é manipulado/a pela mídia?". Eu tenho certeza absoluta que você vai dizer que não. E faço mais uma pergunta parecida com a outra lá de cima: "Você conhece alguém que seja manipulado/a pela mídia?". Provavelmente, a sua resposta será positiva. Qual o grande problema disso? Muitas vezes não nos damos conta do grande império de comunicação que existe nesse país, chefiado pela família Marinho, mas que conta também com os Civita, Abravanel, Igreja Universal, e talz. E caímos mesmo na tolice de acreditar que, por termos estudado um pouquinho e por termos acesso a internet, estamos totalmente livres do domínio midiático, sem muitas vezes sequer levarmos em conta que as grandes empresas de comunicação tem um traço classista lógico em sua produção majoritária. Acreditamos mesmo que estamos livres de toda a enxurrada cultural da Globo e suas parceiras. Essa estrutura tem suas consequências totalmente danosas para a nossa democracia (se é que dá pra chamar isso aqui de democracia). E tendemos a colocar a culpa no outro sobre estas consequências. O problema sempre está no outro. Que vota mal, que não tem opinião própria, que "só vê novela e futebol" etc. E aí passamos a rejeitar qualquer coisa que venha da tal mídia demoníaca por causa das consequências que ela gera no outro, mas em nós, seres iluminados e perfeitamente pensantes, jamais. Exemplo: no final da novela do Félix (esqueci o nome e fiquei com preguiça de procurar, foi mal), houve um beijo entre dois caras. Parte das pessoas comemorou o que aconteceu, por acreditar que a visibilidade maior dada aos homossexuais é uma ferramenta importante para o combate à homofobia. Outras pessoas caíram na sandice de sair falando mal da emissora por estarem passando "sem vergonhices" em horário nobre que só alienariam muito mais nossa população. Ou seja, combatemos a ~~alienação midiática~~ com homofobia? Quem achou o beijo gay um avanço na visibilidade homo afetiva é necessariamente alienado/a pela mídia? E quem falou mal da Globo por conta do episódio é uma pessoa intelectualmente independente e super instruída, diferentemente dos outros que comemoraram?

O que eu quero dizer é o seguinte: muitas vezes acreditamos que estamos combatendo o racismo sem necessariamente contribuir para uma real igualdade entre pessoas de diferentes cores porque acreditamos que tal igualdade já existe ou está muito próxima, daí pensamos que precisamos fazer pouco para alcançá-la, ou então, deixar o assunto pra lá, porque se não falarmos mais nisso, uma hora vamos esquecer e vai ficar tudo certo. Da mesma forma, tendemos a rechaçar qualquer coisa que venha da grande mídia sem qualquer reflexão crítica porque achamos que estamos livres dela, e/ou que tudo que venha dela é ruim. Pior ainda, não levamos em consideração as disputas que ocorrem dentro dela, que são disputas (ainda que tenha muitas limitações)que se dão em outros espaços da sociedade. Qual é a consequência disso? Acabamos por ser contra o racismo sem discutirmos a estrutura da sociedade com traços raciais bem definidos, e combatemos o que é veiculado pela mídia utilizando as mesmas ideologias dessa mídia que tanto criticamos. Basta ver quantas pessoas detestam a Globo e são a favor de pena de morte, da redução da maioridade penal, contrárias às cotas raciais (propostas que estão de total acordo com o pensamento da classe dominante, da qual os grandes impérios de comunicação fazem parte), etc. Estou querendo dizer que todo mundo que é a favor da pena de morte e das outras propostas seja ~~manipulado pela mídia~~? Não necessariamente. Creio que muitas pessoas sofram influência da mesma em diversos aspectos de suas vidas (desde o tipo de música que ouve, passando pela roupa que veste, até a sua cultura política) mesmo que não queiram, da mesma forma que acredito que muitas pessoas, mesmo não se identificando como racistas, praticam o racismo direta ou indiretamente no cotidiano. O primeiro passo para nos livrarmos disso tudo é termos plena consciência de que somos seres influenciados e influentes, e numa sociedade desigual como a nossa, é muito difícil se ver livre dos padrões e da noção de cultura dominantes.

Não é feio, admitir que já praticou racismo alguma vez na sua vida, feio é querer esconder isso, fechar os olhos para ele e dizer que tá tudo bem, porque temos as mesmas capacidades e potencialidades (isso todos já sabemos, precisamos ir além disso). Também não é feio admitir que sofre influência da Globo e emissoras afins. Feio é achar que você é uma ilha. Ainda mais quando tá escrito na tua cara que não é. Beijos no cérebro e vamos à luta. Até a próxima.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

O Shopping e a minha casa.

O grande tema dos últimos dias nas redes sociais foi o tal do "Rolézinho". Tais eventos ocorreram nas últimas semanas em São Paulo, e neste final de semana, ocorrerá um no Shopping Leblon, bairro chique da Zona Sul do Rio de Janeiro. Neles jovens das favelas e periferias, assim como alguns militantes de movimentos sociais se reúnem pra passear, tirar uma onda, dar uma paquerada e tudo mais.

Tais atos geraram um grande temor por parte dos donos de Shopping Centers e lojistas alocados neles, que mandaram seus funcionários fecharem as portas, temendo possíveis arrastões. Todo esse ocorrido fez com que se revelasse bastante sobre as formas de discriminação veladas que existem na sociedade brasileira. Para muitos membros das elites e de camadas médias da sociedade, um monte de gente pobre, andando junta e fazendo algazarra, é certeza de crimes à vista.

Como era de se esperar, houve uma polarização de opiniões nas redes sociais, onde uma parcela defendia os argumentos de lojistas e donos de shoppings e, por outro lado, outra parte defendia o direito da molecada de realizar o "Rolézinho" numa boa. Ainda houve quem tentasse achar um "meio termo" para essa discussão, coisa que, no meu ponto de vista, é totalmente inadequada para este tipo de discussão.

O que vou falar no meu texto é algo bem sucinto, mas acredito que seja fundamental pra realização desse debate. Quem me conhece sabe bem de que lado eu me posiciono, portanto, não vou bancar ~~o imparcial~~, até porque acredito que a parcialidade não desqualifique a opinião de ninguém. Muito pelo contrário.

Um dos argumentos utilizados pelos defensores dos lojistas e donos de shopping foi o de que, por se tratar de um ambiente de natureza privada, os proprietários teriam o direito de impedir a entrada desses "Rolezeiros" nos Shopping Centers. A parte defensora dos jovens do "Rolézinho" contra-argumentou dizendo que tal proibição se trataria de uma discriminação tanto de cor, quanto de classe, uma vez que a entrada nos Shoppings é gratuita e aberta ao público em geral.

Mas ai alguns gênios da internet utilizaram o argumento que está brilhantemente exposto nesse link:

Segundo o vídeo, que eu espero que vocês tenham visto até o final sem ter um ataque epilético, os defensores do "Rolé" nos shoppings, deveriam fazer um evento parecido com este em suas respectivas residências. Diante de tanta boçalidade intelectual, me vi obrigado a dizer o óbvio.

Queridos amigos, é possível defender um argumento e um posicionamento sem ser burro. Diante disso, eu venho a público dizer para vocês que um Shopping não é uma residência. Me sinto muito idiota em dizer isso como se fosse uma novidade, mas tudo bem. Não há interesse público em visitar a minha casa, nem a de ninguém, a minha casa não é um centro comercial aberto ao público, nem um museu, nem uma praça onde velhinhos se reúnem para jogar baralho, ou qualquer coisa do tipo. O shopping, apesar de ser privado, sempre teve acesso aberto a qualquer pessoa. Sendo assim, o único motivo plausível pelo qual a entrada de alguém poderia ser vetada seria a superlotação. Os tais "Rolézinhos" não superlotaram os shoppings, principalmente se a gente comparar com a realidade de algumas semanas atrás, quando as compras de natal levaram milhares às lojas, nas quais houve um baita lucro das lojas às custas de degradantes condições de trabalho para a maioria dos funcionários. Sendo assim, defender que o dono do shopping pode escolher entre receber esses jovens negros e favelados no seu estabelecimento comercial (que repito, sempre foi aberto ao público) ou não, é, na melhor das hipóteses, fechar os olhos pra segregação social e racial que existe na sociedade brasileira e ajudar na manutenção do status quo.

Tal "argumento" não merece sequer esse denominação. Isso nada mais é do que desonestidade intelectual. Ou, quem sabe, burrice mesmo.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Porta dos Fundos e a revolta dos cristãos.

Acho engraçado que uma galera defensora da liberdade de expressão, que diz que o humor não pode ser censurado e que existe uma ~~patrulha do politicamente correto~~ que não deixa ninguém fazer mais piada nenhuma com ninguém, agora anda toda revoltada com os vídeos da galera do Porta dos Fundos. Segundo esses, tais vídeos são uma afronta ao cristianismo e aos valores cristãos. Alguns chegaram ao ponto de dizer que os vídeos deveriam ser retirados do ar e tudo mais.

Eu entendo que muitos de vocês, amigos cristãos, não gostem de tais vídeos. Tais histórias, e valores contidos nelas são sagrados pra vocês. Mas eu gostaria que vocês entendessem também, que por mais que vocês não gostem e discordem, a história de Cristo e do Cristianismo NÃO É MONOPÓLIO de vocês. Ela pertence ao público. E este público inclui também os não-cristãos, que diferentemente de vocês, não consideram tais histórias sagradas. Vocês podem não gostar da interpretação que o grupo fez e satirizou. Sendo assim, sintam-se livres para não verem mais nenhum vídeo deles. De qualquer forma, em nenhum momento dos vídeos em que vocês afirmam que há um ~~ataque ao cristianismo~~ há incitação ao ódio ou reforço de esteriótipos, ou qualquer tipo de violência simbólica, e sim uma subversão de uma história contada por vocês que cada ser humano tem direito de interpretar e reproduzir da maneira que melhor entender. Queria muito que vocês entendessem que criticar e satirizar não é a mesma coisa que ofender.

Outro bagulho que vocês estão fazendo e está me dando vergonha alheia é usar o seguinte argumento: "Quero ver fazer isso com Maomé". Se vocês acreditam que o que vocês sofreram foi incitação ao ódio, por quê vocês provocam o Porta dos Fundos a fazer o mesmo com os símbolos de outra religião? Confesso que não entendi. Além do mais, isso não é contra o princípio da própria religião de vocês?

Outra coisa, e é o que talvez mais me incomode no momento: quando os "humoristas" Danilo Gentili e Rafinha Bastos soltaram um monte de piadas preconceituosas contra negros, judeus e mulheres, muitos de vocês se calaram e uma parte ainda veio dizer: "É só uma piada, tem uma galera muito chata que fica patrulhando os outros". Como diria a Tia Vera, minha ex catequista, vocês estão precisando fazer um exame de consciência. Só a fé de vocês merece respeito? A dignidade de seres humanos estigmatizados e violentados pode ser tratada como piada numa boa, mas uma sátira com a história da qual a religião de vocês se apropria (mas que, repito, em nenhum momento é posse absoluta de vocês) é uma afronta a princípios morais? Vocês tem certeza disso?

Há quem diga que há uma perseguição aos valores do cristianismo no Brasil. Eu sugiro que vocês façam a seguinte reflexão: Quantas vezes você, cristão, foi alvo de preconceito por ser cristão? Se já foi, tente se comparar aos adeptos de religiões de matriz africana. Quantas vezes seu templo ou igreja foi destruído por fanáticos? Quantas vezes você propôs que uma oração fosse feita e isto foi negado(incluindo lugares onde manifestações religiosas não deveriam acontecer, fossem elas cristãs ou não)?

Eu espero que muitos de vocês não confundam a luta pela laicização do Estado (ou seja, a separação entre religião e Estado) com uma luta pelo fim de qualquer crença. Caso contrário, vocês estarão sendo nada mais do que massa de manobra de políticos e empresários travestidos de líderes religiosos que querem transformar a sua fé em projeto de poder (que não necessariamente vos inclui). Sendo assim, sugiro que vocês façam uma reflexão mais profunda antes de assinar qualquer baixo assinado ou fazer qualquer denúncia. Obrigado e beijos no cérebro.