Total de visualizações de página

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

O Shopping e a minha casa.

O grande tema dos últimos dias nas redes sociais foi o tal do "Rolézinho". Tais eventos ocorreram nas últimas semanas em São Paulo, e neste final de semana, ocorrerá um no Shopping Leblon, bairro chique da Zona Sul do Rio de Janeiro. Neles jovens das favelas e periferias, assim como alguns militantes de movimentos sociais se reúnem pra passear, tirar uma onda, dar uma paquerada e tudo mais.

Tais atos geraram um grande temor por parte dos donos de Shopping Centers e lojistas alocados neles, que mandaram seus funcionários fecharem as portas, temendo possíveis arrastões. Todo esse ocorrido fez com que se revelasse bastante sobre as formas de discriminação veladas que existem na sociedade brasileira. Para muitos membros das elites e de camadas médias da sociedade, um monte de gente pobre, andando junta e fazendo algazarra, é certeza de crimes à vista.

Como era de se esperar, houve uma polarização de opiniões nas redes sociais, onde uma parcela defendia os argumentos de lojistas e donos de shoppings e, por outro lado, outra parte defendia o direito da molecada de realizar o "Rolézinho" numa boa. Ainda houve quem tentasse achar um "meio termo" para essa discussão, coisa que, no meu ponto de vista, é totalmente inadequada para este tipo de discussão.

O que vou falar no meu texto é algo bem sucinto, mas acredito que seja fundamental pra realização desse debate. Quem me conhece sabe bem de que lado eu me posiciono, portanto, não vou bancar ~~o imparcial~~, até porque acredito que a parcialidade não desqualifique a opinião de ninguém. Muito pelo contrário.

Um dos argumentos utilizados pelos defensores dos lojistas e donos de shopping foi o de que, por se tratar de um ambiente de natureza privada, os proprietários teriam o direito de impedir a entrada desses "Rolezeiros" nos Shopping Centers. A parte defensora dos jovens do "Rolézinho" contra-argumentou dizendo que tal proibição se trataria de uma discriminação tanto de cor, quanto de classe, uma vez que a entrada nos Shoppings é gratuita e aberta ao público em geral.

Mas ai alguns gênios da internet utilizaram o argumento que está brilhantemente exposto nesse link:

Segundo o vídeo, que eu espero que vocês tenham visto até o final sem ter um ataque epilético, os defensores do "Rolé" nos shoppings, deveriam fazer um evento parecido com este em suas respectivas residências. Diante de tanta boçalidade intelectual, me vi obrigado a dizer o óbvio.

Queridos amigos, é possível defender um argumento e um posicionamento sem ser burro. Diante disso, eu venho a público dizer para vocês que um Shopping não é uma residência. Me sinto muito idiota em dizer isso como se fosse uma novidade, mas tudo bem. Não há interesse público em visitar a minha casa, nem a de ninguém, a minha casa não é um centro comercial aberto ao público, nem um museu, nem uma praça onde velhinhos se reúnem para jogar baralho, ou qualquer coisa do tipo. O shopping, apesar de ser privado, sempre teve acesso aberto a qualquer pessoa. Sendo assim, o único motivo plausível pelo qual a entrada de alguém poderia ser vetada seria a superlotação. Os tais "Rolézinhos" não superlotaram os shoppings, principalmente se a gente comparar com a realidade de algumas semanas atrás, quando as compras de natal levaram milhares às lojas, nas quais houve um baita lucro das lojas às custas de degradantes condições de trabalho para a maioria dos funcionários. Sendo assim, defender que o dono do shopping pode escolher entre receber esses jovens negros e favelados no seu estabelecimento comercial (que repito, sempre foi aberto ao público) ou não, é, na melhor das hipóteses, fechar os olhos pra segregação social e racial que existe na sociedade brasileira e ajudar na manutenção do status quo.

Tal "argumento" não merece sequer esse denominação. Isso nada mais é do que desonestidade intelectual. Ou, quem sabe, burrice mesmo.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Porta dos Fundos e a revolta dos cristãos.

Acho engraçado que uma galera defensora da liberdade de expressão, que diz que o humor não pode ser censurado e que existe uma ~~patrulha do politicamente correto~~ que não deixa ninguém fazer mais piada nenhuma com ninguém, agora anda toda revoltada com os vídeos da galera do Porta dos Fundos. Segundo esses, tais vídeos são uma afronta ao cristianismo e aos valores cristãos. Alguns chegaram ao ponto de dizer que os vídeos deveriam ser retirados do ar e tudo mais.

Eu entendo que muitos de vocês, amigos cristãos, não gostem de tais vídeos. Tais histórias, e valores contidos nelas são sagrados pra vocês. Mas eu gostaria que vocês entendessem também, que por mais que vocês não gostem e discordem, a história de Cristo e do Cristianismo NÃO É MONOPÓLIO de vocês. Ela pertence ao público. E este público inclui também os não-cristãos, que diferentemente de vocês, não consideram tais histórias sagradas. Vocês podem não gostar da interpretação que o grupo fez e satirizou. Sendo assim, sintam-se livres para não verem mais nenhum vídeo deles. De qualquer forma, em nenhum momento dos vídeos em que vocês afirmam que há um ~~ataque ao cristianismo~~ há incitação ao ódio ou reforço de esteriótipos, ou qualquer tipo de violência simbólica, e sim uma subversão de uma história contada por vocês que cada ser humano tem direito de interpretar e reproduzir da maneira que melhor entender. Queria muito que vocês entendessem que criticar e satirizar não é a mesma coisa que ofender.

Outro bagulho que vocês estão fazendo e está me dando vergonha alheia é usar o seguinte argumento: "Quero ver fazer isso com Maomé". Se vocês acreditam que o que vocês sofreram foi incitação ao ódio, por quê vocês provocam o Porta dos Fundos a fazer o mesmo com os símbolos de outra religião? Confesso que não entendi. Além do mais, isso não é contra o princípio da própria religião de vocês?

Outra coisa, e é o que talvez mais me incomode no momento: quando os "humoristas" Danilo Gentili e Rafinha Bastos soltaram um monte de piadas preconceituosas contra negros, judeus e mulheres, muitos de vocês se calaram e uma parte ainda veio dizer: "É só uma piada, tem uma galera muito chata que fica patrulhando os outros". Como diria a Tia Vera, minha ex catequista, vocês estão precisando fazer um exame de consciência. Só a fé de vocês merece respeito? A dignidade de seres humanos estigmatizados e violentados pode ser tratada como piada numa boa, mas uma sátira com a história da qual a religião de vocês se apropria (mas que, repito, em nenhum momento é posse absoluta de vocês) é uma afronta a princípios morais? Vocês tem certeza disso?

Há quem diga que há uma perseguição aos valores do cristianismo no Brasil. Eu sugiro que vocês façam a seguinte reflexão: Quantas vezes você, cristão, foi alvo de preconceito por ser cristão? Se já foi, tente se comparar aos adeptos de religiões de matriz africana. Quantas vezes seu templo ou igreja foi destruído por fanáticos? Quantas vezes você propôs que uma oração fosse feita e isto foi negado(incluindo lugares onde manifestações religiosas não deveriam acontecer, fossem elas cristãs ou não)?

Eu espero que muitos de vocês não confundam a luta pela laicização do Estado (ou seja, a separação entre religião e Estado) com uma luta pelo fim de qualquer crença. Caso contrário, vocês estarão sendo nada mais do que massa de manobra de políticos e empresários travestidos de líderes religiosos que querem transformar a sua fé em projeto de poder (que não necessariamente vos inclui). Sendo assim, sugiro que vocês façam uma reflexão mais profunda antes de assinar qualquer baixo assinado ou fazer qualquer denúncia. Obrigado e beijos no cérebro.