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domingo, 15 de maio de 2016

Parem de idealizar Dilma Rousseff

Eu nutro um profundo respeito pelos camaradas de esquerda, dos mais diferentes espectros e correntes. Sei que no fundo, nossas intenções de criar uma sociedade mais justa, igualitária, sem divisões de classes e opressões de qualquer tipo se convergem. No entanto, acho que precisamos pensar numas paradas, especialmente nesse circo dos horrores que estamos vivendo:

1) O governo Dilma era bom pra classe trabalhadora? Acredito que vcs dirão que não. Se acham que sim, paremos por aqui.

2) Se os próprios trabalhadores não são contemplados pelo governo do PT, como podemos travar o debate sobre esse governo ilegítimo do Michel Temer?

3) Será que idealizar uma Dilma Rousseff de luta, aguerrida, a famosa ~~coração valente~~ que lutou contra a ditadura adianta?

4) Será que não está claro pra todo mundo que esta Dilma idealizada não passa de uma caricatura, já que existe uma diferença abissal entre a Dilma presidenta e a Dilma guerrilheira?

5) Se a reposta à pergunta anterior for positiva, será que é criada uma caricatura da Dilma apenas, ou também uma caricatura de uma militância de esquerda que fecha os olhos para a realidade?

6) Será que vale tanto apena travar um embate em torno da categoria de golpe?

7) Independentemente da resposta anterior, será que não vale mais a pena nós nos concentrarmos em discutir os terríveis retrocessos que o PMDB planeja para o Brasil, independentemente de (i)legalidade do processo?

8) Por último, será que nós não estamos, nesse debate todo, adotando uma postura arrogante que dificulta o diálogo com a grande maioria da classe trabalhadora?

Não são perguntas retóricas. Gostaria de saber o que vocês tem a dizer. Um beijo no pulmão da galera.

sexta-feira, 18 de março de 2016

Sobre preconceito de raça, de idade e de roupa.

Ontem conversei com um rapaz do curso onde trabalho. Ele devia ter uns 17, 18 anos, estudante do colégio militar. Ah, ele é negro também.
Ele me falava da sua dúvida entre cursar direito (porque queria ser defensor público) ou História (porque achava muito maneiro). Ele não entendia como havia estudantes de direito, ou pessoas que pretendiam fazer o curso que achavam maneiro a violação de direitos da população mais pobre por parte do Estado. Conversa vai, conversa vem, caímos na discussão sobre o racismo e as cotas raciais. Falei um pouco da minha pesquisa de mestrado, que tem a ver com o tema, e ele contou que tinha lido algumas partes de "Casa grande e Senzala", do Gilberto Freire. Disse que não concordava muito com o que o autor dizia, mas achava importante ler porque foi uma das primeiras abordagens sobre as relações étnicas no Brasil. Ele falou também sobre algumas experiências que já passou. Uma, de quando ficou feliz quando percebeu que, ao andar na rua, a pessoa que vinha em sua direção não a atravessou (coisa que, segundo ele, sempre aconteceu), e outra das 9 abordagens policiais pelas quais já passou. Segundo ele, apensar uma dessas vezes, a abordagem foi minimamente educada. Uma parada que esse rapaz me disse e que tá na minha cabeça agora foi o seguinte: "Dói muito quando alguém diz que esse tipo de coisa (racismo) não existe. Porque a gente sabe que existe"
Fiquei de 20 a 30 minutos conversando com ele. Ele mostrou uma serenidade e um espírito crítico pra tratar de temas tão delicados como racismo, ações afirmativas e luta de classes que eu não esperava de uma pessoa da idade dele. Ainda mais com a roupa que ele estava usando (aquele uniforme pééééssimo do colégio militar).
Fiquei pensando sobre isso, e tenho a mais absoluta certeza de que ontem eu aprendi com ele mais do que ele aprendeu comigo. E quantas vezes nós deixamos de aprender alguma coisa por diminuirmos as pessoas por conta da idade que elas tem, dos lugares que elas frequentam, ou por conta da cor da pele delas? É para se pensar.