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quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Quando a vida te der limões...

Há cerca de um mês atrás eu entrei em um ônibus (mais precisamente o 335, Cordovil - Tiradentes via Brás de Pina) em minha volta do trabalho. O ônibus estava bastante cheio, como de costume naquele horário, por  volta de 9:15 da noite.

Após entrar, passei a roleta e fiquei em pé próximo a ela. Poucos minutos depois, um homem entrou no ônibus e foi passar a roleta. Para não atrapalhá-lo, me movimentei em direção ao centro do busão. Neste longo e árduo caminho, um homem sentado que aparentava ter entre 55 e 65 anos puxou a minha perna. Na hora eu não entendi nada. Mas como sou um desastrado de carteirinha, pensei na possibilidade de ter pisado no cara, ou algo do tipo. Parei perto do homem e perguntei:
- Com licença, eu pisei no senhor?
O homem gentilmente me respondeu:
- Você está maluco!
Tomei um susto com a resposta, e apenas disse:
- Ok, desculpa.

Alguns segundos depois, o cara continuou falando em tom irônico:
- Você não fez nada, não fez nada você!
Fiquei confuso.

Após esse breve e amistoso diálogo, a mulher que estava sentada do lado dele olhou pra mim como se quisesse dizer que o cidadão estava bêbado ou fosse maluco. Na hora eu liguei o foda-se.

O cara, no entanto, continuou falando. Não dei muita atenção e nem lembro direito o que ele dizia. Mas se não me engano, na maior parte do tempo, era algo do tipo "Eu vou querer brigar com você? Eu tenho sei lá quantos anos!". Pra não deixar o cara no vácuo, eu só balançava a cabeça e dizia "Jamais, jamais..."

Até que chegou o momento em que o homem resolveu falar da mulher que estava sentada no banco de trás. Também não dei muita bola, mas ele parecia estar falando da aparência física da cidadã.
E aí é que estava o problema. Por um momento eu esqueci que há no mundo pessoas sem a mesma capacidade de abstração que eu tenho. A mulher começou a ficar bolada. Perguntou pra mim o que o cara estava falando. Como eu nem sabia direito, tentei fazer o mesmo sinal que a mulher ao lado dele me fizera minutos antes. Mas minha tentativa foi inútil.

Eis que a mulher de trás se levanta. E foi tirar satisfação com o homem. Falou para o mesmo "calar a porra da boca", caso contrário ela meteria a porrada no cidadão. Após um breve momento de inquietação, ambos se sentaram. E aí o homem talvez tenha cometido o maior erro da vida dele: continuou a falar. Eu por um instante achei que as coisas se acalmariam até eu chegar em casa. Só que não contente em apenas continuar falando, o homem aumentou o tom de voz. Começou a chamar a mulher de "grossa", "vadia", "gorda", ainda soltou frases do tipo: "Algum homem vai querer isso ai? Toda grossa, toda ruim". Enquanto isso a mulher não parava de xingar o cara de "velho babão" ou coisas do tipo. Eles se levantaram novamente e tornaram a discussão mais ríspida. Como não sou uma pessoa que gosta de agressões, tentei acalmar os ânimos, afinal, não custava tentar, estava perto e talz, sem contar que se saísse porrada ali seria por um baita motivo banal. Mas eu subestimei o poder da violência.

A mulher disse que se o cara encostasse ao menos um dedo nela, a porrada comeria. Pra mim era blefe. Pro cara também. Ele só de sacanagem encostou. E a mulher fez seu braço voar pra cima do cara, que por sua vez revidou. Pois é, você já deve ter entendido que isso era tragédia anunciada. O problema é que eu não tinha entendido. Neste momento, eu ainda estava no meu processo de tentativa de apaziguamento, que fora solenemente ignorado por ambos. Ou seja, conforme a porrada começou a comer, eu fui delicadamente jogado em direção a roleta e não pude fazer nada a não ser assistir de um ponto de vista privilegiado dois seres humanos caindo no tapa sabe-se lá por qual causa, motivo, razão ou circunstância. Saldo da porradaria: os dois bateram, os dois apanharam.

A confusão gerou um furor geral no ônibus. O pessoal ficou revoltado com o cara, afinal, ele estava batendo em uma mulher. Deram uns pescotapas no maluco, mas nada que o machucasse. Depois de uma rápida confusão geral, tentaram fazer com que o cidadão descesse do ônibus. Ele se recusou, pois afirmou que  não tinha feito nada (pois é). O ônibus ficou parado por um tempo, até que a mulher falou para os mediadores da confusão (a essa altura do campeonato eu já nem tentava mais acalmar nada): 
- Deixa ele quieto ai, se fudeu, apanhou de mulher. Vou ligar pro meu marido dar uma coça nesse filho da puta.

Mais uma vez eu achei que era blefe. Mas não era. Após andar mais um pouco, o ônibus parou em um ponto onde muitos passageiros descem, mais precisamente na esquina da Rua Ourique com a Taborari, pra quem conhece esse feudo. Após a descida de passageiros, um homem de cerca de 35 anos entra no ônibus e pergunta:  
- O que está acontecendo?
A mulher envolvida na confusão diz:
-Foi ele, amor!
Em seguida aponta para o homem envolvido na briga.

Depois de proferir meia dúzia de palavras intimidadoras para o homem que deveria ser uns 20 ou 30 anos mais velho que ele, o rapaz enfiou-lhe a porrada. Teve de tudo: mão aberta, mão fechada, pontapé, inclusive uma bela técnica de se pendurar no balaústre e dar pontapés voadores. Quando eu achava que aquilo já tinha ido longe demais, entra um rapaz mais novo e mais magro do que o marido da mulher envolvida, e começa a bater com um pedaço de pau na cabeça do homem.

Neste momento eu não aguentei mais. Como já estava perto de casa, desci do ônibus ali mesmo e fui andando. A mulher ao lado do homem violentado fez o mesmo que eu.

Como se já não bastasse ter que viver com o caos diário do transporte, ainda tive que ver de perto cenas de violência gratuita.

Não consegui achar nada de bom nesta história, mas se a vida te der limões, faça ao menos uma postagem em um blog.

Ps: Galera, por favorzinho, vamos evitar comentários que contenham criminalização da pobreza. Obrigado.

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