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quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Quando a vida te der limões...

Há cerca de um mês atrás eu entrei em um ônibus (mais precisamente o 335, Cordovil - Tiradentes via Brás de Pina) em minha volta do trabalho. O ônibus estava bastante cheio, como de costume naquele horário, por  volta de 9:15 da noite.

Após entrar, passei a roleta e fiquei em pé próximo a ela. Poucos minutos depois, um homem entrou no ônibus e foi passar a roleta. Para não atrapalhá-lo, me movimentei em direção ao centro do busão. Neste longo e árduo caminho, um homem sentado que aparentava ter entre 55 e 65 anos puxou a minha perna. Na hora eu não entendi nada. Mas como sou um desastrado de carteirinha, pensei na possibilidade de ter pisado no cara, ou algo do tipo. Parei perto do homem e perguntei:
- Com licença, eu pisei no senhor?
O homem gentilmente me respondeu:
- Você está maluco!
Tomei um susto com a resposta, e apenas disse:
- Ok, desculpa.

Alguns segundos depois, o cara continuou falando em tom irônico:
- Você não fez nada, não fez nada você!
Fiquei confuso.

Após esse breve e amistoso diálogo, a mulher que estava sentada do lado dele olhou pra mim como se quisesse dizer que o cidadão estava bêbado ou fosse maluco. Na hora eu liguei o foda-se.

O cara, no entanto, continuou falando. Não dei muita atenção e nem lembro direito o que ele dizia. Mas se não me engano, na maior parte do tempo, era algo do tipo "Eu vou querer brigar com você? Eu tenho sei lá quantos anos!". Pra não deixar o cara no vácuo, eu só balançava a cabeça e dizia "Jamais, jamais..."

Até que chegou o momento em que o homem resolveu falar da mulher que estava sentada no banco de trás. Também não dei muita bola, mas ele parecia estar falando da aparência física da cidadã.
E aí é que estava o problema. Por um momento eu esqueci que há no mundo pessoas sem a mesma capacidade de abstração que eu tenho. A mulher começou a ficar bolada. Perguntou pra mim o que o cara estava falando. Como eu nem sabia direito, tentei fazer o mesmo sinal que a mulher ao lado dele me fizera minutos antes. Mas minha tentativa foi inútil.

Eis que a mulher de trás se levanta. E foi tirar satisfação com o homem. Falou para o mesmo "calar a porra da boca", caso contrário ela meteria a porrada no cidadão. Após um breve momento de inquietação, ambos se sentaram. E aí o homem talvez tenha cometido o maior erro da vida dele: continuou a falar. Eu por um instante achei que as coisas se acalmariam até eu chegar em casa. Só que não contente em apenas continuar falando, o homem aumentou o tom de voz. Começou a chamar a mulher de "grossa", "vadia", "gorda", ainda soltou frases do tipo: "Algum homem vai querer isso ai? Toda grossa, toda ruim". Enquanto isso a mulher não parava de xingar o cara de "velho babão" ou coisas do tipo. Eles se levantaram novamente e tornaram a discussão mais ríspida. Como não sou uma pessoa que gosta de agressões, tentei acalmar os ânimos, afinal, não custava tentar, estava perto e talz, sem contar que se saísse porrada ali seria por um baita motivo banal. Mas eu subestimei o poder da violência.

A mulher disse que se o cara encostasse ao menos um dedo nela, a porrada comeria. Pra mim era blefe. Pro cara também. Ele só de sacanagem encostou. E a mulher fez seu braço voar pra cima do cara, que por sua vez revidou. Pois é, você já deve ter entendido que isso era tragédia anunciada. O problema é que eu não tinha entendido. Neste momento, eu ainda estava no meu processo de tentativa de apaziguamento, que fora solenemente ignorado por ambos. Ou seja, conforme a porrada começou a comer, eu fui delicadamente jogado em direção a roleta e não pude fazer nada a não ser assistir de um ponto de vista privilegiado dois seres humanos caindo no tapa sabe-se lá por qual causa, motivo, razão ou circunstância. Saldo da porradaria: os dois bateram, os dois apanharam.

A confusão gerou um furor geral no ônibus. O pessoal ficou revoltado com o cara, afinal, ele estava batendo em uma mulher. Deram uns pescotapas no maluco, mas nada que o machucasse. Depois de uma rápida confusão geral, tentaram fazer com que o cidadão descesse do ônibus. Ele se recusou, pois afirmou que  não tinha feito nada (pois é). O ônibus ficou parado por um tempo, até que a mulher falou para os mediadores da confusão (a essa altura do campeonato eu já nem tentava mais acalmar nada): 
- Deixa ele quieto ai, se fudeu, apanhou de mulher. Vou ligar pro meu marido dar uma coça nesse filho da puta.

Mais uma vez eu achei que era blefe. Mas não era. Após andar mais um pouco, o ônibus parou em um ponto onde muitos passageiros descem, mais precisamente na esquina da Rua Ourique com a Taborari, pra quem conhece esse feudo. Após a descida de passageiros, um homem de cerca de 35 anos entra no ônibus e pergunta:  
- O que está acontecendo?
A mulher envolvida na confusão diz:
-Foi ele, amor!
Em seguida aponta para o homem envolvido na briga.

Depois de proferir meia dúzia de palavras intimidadoras para o homem que deveria ser uns 20 ou 30 anos mais velho que ele, o rapaz enfiou-lhe a porrada. Teve de tudo: mão aberta, mão fechada, pontapé, inclusive uma bela técnica de se pendurar no balaústre e dar pontapés voadores. Quando eu achava que aquilo já tinha ido longe demais, entra um rapaz mais novo e mais magro do que o marido da mulher envolvida, e começa a bater com um pedaço de pau na cabeça do homem.

Neste momento eu não aguentei mais. Como já estava perto de casa, desci do ônibus ali mesmo e fui andando. A mulher ao lado do homem violentado fez o mesmo que eu.

Como se já não bastasse ter que viver com o caos diário do transporte, ainda tive que ver de perto cenas de violência gratuita.

Não consegui achar nada de bom nesta história, mas se a vida te der limões, faça ao menos uma postagem em um blog.

Ps: Galera, por favorzinho, vamos evitar comentários que contenham criminalização da pobreza. Obrigado.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

O Maior Brasileiro de Todos os Tempos

A finalíssima acontecerá no dia 3 de outubro. Ainda estão no páreo Chico Xavier, a princesa Isabel e Santos Dumont.
Por essa lista passaram alguns nomes de extrema importância para a história de nosso país, seja na política, nas artes, esportes, etc: Getúlio Vargas, Pelé, Irmã Dulce, Renato Russo e Machado de Assis foram alguns deles.

A lista também contabilizou uma série de nomes bizarros, como: Dedé do Vasco, Luciano Huck, Rodrigo Faro, Xuxa, Luan Santana, Michel Teló, Gugu Liberato, Hebe Camargo, Reinaldo Gianecchini, Datena, Ronaldinho Gaúcho, Cláudia Milk, Silas Malafaia, Eike Batista, Neymar, Edir Macedo, Roberto Justus, Ronald Golias, Anderson Silva, Fernando Henrique Cardoso e vamos parar por aqui pra não ficar mais feio.

Me entristece mais, na verdade, a forma como essas personalidades são apresentadas ao público. Um misto de heroísmo com ufanismo, como se nosso país não fizesse sentido sem a bondade e/ou genialidade das pessoas em questão. Uma princesa Isabel boazinha, que por pena dos negrinhos escravizados, fez a bondade de conceder-lhes a liberdade. Um FHC que deveria ganhar uma estátua dourada por ter controlado a inflação. Um JK que só pensava na integração entre as regiões do Brasil, um visionário, pessoa a frente do seu tempo.

Não quero questionar a importância de alguns desses nomes, mas colocá-los como salvadores da pátria é no mínimo exagero. Se existe um maior brasileiro de todos os tempos, ele certamente não foi capa da Veja ou da Caras, não foi manchete de jornal, não foi matéria do Fantástico, nem foi entrevistado pela Hebe. Provavelmente foi um cara que acordou bem cedo mais da metade dos dias de sua vida, comeu o pão que o diabo amassou no trabalho, fez o que pode pra se sustentar (e sustentar sua família) e ainda assim teve que lidar com a humilhação diária imposta por uma sociedade desigual. Sem nenhum reconhecimento.

Me irrita a forma como são colocadas tais figuras por parte de nossos meios de comunicação de massa. Sobra sensacionalismo e falta um pouco (pra pegar leve) de senso crítico. Lamentável.

Pra piorar, tudo isso apresentado por um cara que disse que eu já fui mais inteligente só porque falei que a Luiza tava no Canadá.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Cotas nas universidades

Vi que muitas pessoas andaram se posicionando em relação ao assunto recentemente, devido a aprovação simbólica no Senado de reserva de 50% das vagas nas universidades para estudantes de colégios públicos. Talvez o que tenha tornado essa medida um pouco mais polêmica é que tal reserva de vagas possui aspectos ligadas ao vago, confuso e já superado conceito de raça. Dessa forma, quem se declarasse negro, pardo ou índio teria direito a cotas.

Minha análise não busca de forma alguma responder a todas as questões que envolvem esse amplo debate. Porém acredito que a forma como ele tem sido feito, principalmente pelas pessoas que se sentiram prejudicadas com tal projeto, carece de um pouco de sensibilidade em relação a realidade politico-econômica do país e possui em demasia pensamentos relativamente individualistas. Um debate que envolve tantos temas complexos não pode, a meu ver, ser vítima de tantos reducionismos ou casos específicos a serem abordados para uma política de amplitude nacional.

Bem, antes de qualquer coisa, eu acredito que qualquer política inclusiva precisa parar de ser vista como privilégio. Se chegamos ao ponto de tomarmos uma medida como essa, é porque: 1- O nosso sistema educacional desvaloriza completamente o ensino publico, em favor de instituições privadas que se beneficiam através das condições precárias das escolas públicas. 2 - O ingresso às universidades e outras instituições federais é altamente excludente.

As razões para tais fatos (grosso modo) se dá pela histórica elitização da educação no Brasil e ao descaso de nossos recentes governantes (recentes aqui me refiro desde a abertura política, levando em consideração que não dava pra esperar muita coisa dos milicos). No entanto, seriam perfeitamente passíveis de melhora em médio e longo prazo caso Dilma e Mercadante se colocassem disponíveis ao diálogo com professores e servidores, e/ou caso 10% do PIB brasileiro fosse destinado à educação pública.

Pode ser que esse sistema de cotas seja uma forma de "mascarar" a péssima qualidade do ensino público brasileiro. Tenho certeza de que elas não seriam necessárias se nosso país fosse menos desigual. Mas fico pensando em como estaria a situação desses jovens cotistas hoje, caso não conseguissem o acesso à universidade. Provavelmente jamais teriam oportunidade semelhante. Vale lembrar também que, por condições econômicas, muitos estudantes de classe média baixa e pobres não conseguem concluir seus estudos no ensino superior.

Podemos achar falhas nesse sistema? Com certeza, e acho que é interessante que ele receba críticas. Mas não consigo acreditar que o meu país seria menos injusto se ele não existisse.

O acesso a universidade está longe de ser dado por mérito. E antes as incertezas de uma política de inclusão estranha, do que a completa ausência dela. Mas não me restam dúvidas de que há muita coisa pra ser acertada caso algum dia quisermos ter uma educação decente.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

A meus amigos de Brás de Pina e redondezas

      Há mais ou menos um mês e meio (talvez mais), recebi na caixa de correio da minha casa um papel. Tratava-se de uma cópia de um e-mail do senhor Ulisses Marins cujo destinatário não me lembro o nome. Tratava-se provavelmente de algum órgão da prefeitura. Não tenho acesso ao documento agora, uma vez que minha mãe o jogou fora. Mas se isso chegou à minha casa, vocês talvez saibam do que estou falando. Neste e-mail, grosso modo, pedia-se algumas pequenas melhorias na pavimentação de ruas e/ou iluminação, se não me falha a memória. 
        Bem, mesmo não conseguindo lembrar do e-mail na íntegra, achei no mínimo curiosa esta forma de se fazer propaganda eleitoral antecipada. Muito legal cobrar das autoridades o que é, na verdade, obrigação delas. Mas por que será que é preciso mostrar isso aos seus vizinhos quando se está prestes a iniciar sua campanha para vereador da cidade? Pelo visto pagar de bom samaritano nos arredores da sua casa é uma boa forma de se legislar.
        Se vocês não forem cegos, acredito que já devem ter visto há um tempo atrás um ou dois cartazes no valão da Itapemirim pedindo aos moradores daquela área para não jogarem lixo no rio (ou seja lá o que aquilo seja hoje em dia). Poxa, realmente não é legal jogar lixo no rio, mas por que um cartaz com esses dizeres PRECISA ter o nome desse homem? 
        E quanto às mensagens de final de ano que pudemos ouvir (aliás, tivemos nossos tímpanos quase estuprados) através do DIOGO - CARRO DE SOM? Será mesmo que esse cara tá realmente se importando se a gente vai ter um feliz natal e um próspero ano novo, ou essa merda é só pra gente não esquecer o nome dele e a chatice que foi a eleição de 2008, na qual de 5 em 5 minutos a gente ouvia a música: "Ulissses, Ulisses, 1461seeeeeeeeeeeeeeeeeiiss, vote melhor, vote melhoooooooooooooooooooooorrr, Ulisses pra vereadooooooooooooooooor"?
         Por falar em musica chata, vocês já devem ter notado que houve uma pequena mudança no número do candidato. O que era 14, passou a ser 15, o que significa dizer que ao invés de concorrer à câmara municipal pelo PTB, Ulisses agora tenta a sorte pelo PMDB, do prefeito da cidade Eduardo Paes e do governador do estado Sérgio Cabral. E do senador da república José Sarney também. Mas vou parar por aqui porque se for listar cada nome "suspeito" que há nesse partido, a postagem acaba só na próxima eleição. O que me leva a seguinte pergunta: Será que esta foi uma mudança ocasionado por motivos de visão de política e democracia, ou por meros interesses imediatistas (mais chances de ser eleito)? Se a primeira resposta for verdade, esta me leva a outro questionamento: Qual é a visão do PMDB sobre Estado, política e democracia? Se esta pergunta for ampla demais, qual é a visão do candidato sobre essas questões? Porque pelo que podemos ver, é só um jinglezinho pobre, umas plaquinhas aqui e ali e ele se colocando com "o defensor da leopoldina".  Se a segunda resposta for verdade, creio que minha intuição está correta.
       Meus amigos, por mais que um vereador tenha como UMA de suas funções promover a ligação entre os eleitores de sua região e o governo, é um tremendo engano (pra não dizer outra coisa) votar em um candidato, qualquer que seja, só porque ele mora perto da sua casa, da sua rua ou do seu bairro. Há outras coisas que devem ser analisadas além disso, porque um vereador legisla, dialoga com o governo e propõe planos para a cidade. Neste caso, por ser do PMDB, a legislação deste seria (querendo ou não) particamente um "sim, senhor" para a base do governo. Deixar de ver estes pontos e fazer um voto pura e simplesmente bairral é tolice. Por isso, meus amigos, queria fazer esse apelo. Não é porque ele mora aqui pertinho que ele vai nos representar. Vamos lembrar que os nossos "representantes" locais mais famosos, como a família Fernandes (da Rosa e dos Pedros) só vem pra cá pra pseudo-reformar praças e podar árvores e colocar cartazes dizendo que nós estamos agradecendo. 

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Guia para ser um babaca de qualidade em tempos de greve nas universidades


Lição n° 1 - Foque exclusivamente sua análise nos "prejudicados". Enfatize como será ruim atrasar as aulas e, se puder, aumente dizendo que não poderá viajar no final do ano por causa da greve.

Lição n° 2 - Ignore as condições de trabalho e estudo existentes nas IFES. Se você é aluno de uma delas e estuda num campus com boa infraestrutura, finja que todos os seus colegas de universidade compartilham do mesmo espaço de estudo que você. Se estuda num campus ou instituto onde as coisas não são tão boas assim, diga que seus colegas e professores estão reclamando de boca cheia. Mas sempre forje um escândalo quando for ao banheiro e não tiver sabão para lavar as mãos, ou papel pra limpar o cu.

Lição n° 3 - Lembre que todo professor universitário "ganha bem". No entanto, não leve em consideração o grau de instrução da categoria. Nem sequer ouse lembrar que há outras profissões cujos profissionais não necessitaram de tanto estudo quanto os professores das universidades federais e que recebem salários bem maiores que o da categoria.

Lição n° 4 - Se você é um aluno de uma IFES e reclama de alguns professores "falcatruas", fale deles como se estes representassem todo o grupo de trabalhadores. Ignore o fato de que há pessoas extremamente comprometidas com seus trabalhos e que reclamam mais reconhecimento por parte do governo federal.

Lição n° 5 - Se você não é aluno de uma IFES e não está muito interessado em saber sobre a situação das universidades públicas, mas no entanto, não quer soar desatualizado, diga que a causa é em vão e que só fazem isso pra ferrar os alunos.

Lição n° 6 - Se for um aluno babaca de uma faculdade particular, diga que foi por causa de possíveis greves que não foi estudar em uma universidade pública. Jamais mencione que não passou no vestibular, e tente se gabar, porque afinal, sua universidade não tem esse tipo de problema.

Lição n° 7 - Se é aluno de uma universidade em greve, mas não concorda com ela, não perca seu tempo discutindo suas opiniões com alguns estudantes. Afinal, esses pseudo-revolucionários não merecem a sua atenção.

Lição n° 8 - Se não fizer parte de uma IFES ou outra universidade pública em greve, mas tiver o mesmo preconceito explicitado no item acima, ignore o fato de que esses estudantes muitas vezes precisam trabalhar para sustentar seus estudos. Lembre sempre dos filhinhos de papais que lá estão. Sempre esqueça do fato de que lá estão grandes seres pensantes, futuros profissionais de extrema capacidade intelectual (apesar das dificuldades nas condições de ensino de muitos deles).

Lição n° 9 - Se por acaso tomar conhecimento de algo errado feito por algum(ns) membro(s) do movimento em favor da greve, faça questão de mostrar que todo o movimento é assim.

Lição n° 10 - Esqueça que greve é direito do trabalhador. Mostre que estes só estão preocupados com seus próprios umbigos, e que se estivessem realmente preocupados com o futuro do país estariam TRABALHANDO, pois é assim que um país cresce.

Lição n° 11 - Esqueça que, antes de qualquer greve, há uma tentativa de diálogo e negociação. Mostre sempre o quão inconsequente é esse tipo de mobilização, ainda que você não tenha conhecimento de nenhum outro que tenha dado resultados.

Lição n° 12 - Não fale absolutamente nada sobre plano de carreira, ou condições para aposentadoria. Afinal, é bom salientar que o professor só tá ali por causa de dinheiro e ele já "ganha bem pra caralho".
Lição n° 13 - Se por algum acidente se meter em um debate sobre a greve e tiver que propor alguma ideia para a melhoria da educação, grite logo: "PRIVATIZAÇÃO", é a saída mais rápida e eficaz. Afinal, privatizar faz tudo dar certo.

Lição n° 14 - Desqualifique qualquer ação como meramente ideológica, como se a sua desqualificação não fosse.

Lição n° 15 - Se for professor, estiver no topo da carreira e além disso ganhar dinheiro com outras atividades (algumas privadas utilizando inclusive o nome da instituição de ensino publica em que trabalha), use dos argumentos mais hipócritas para justificar a não entrada na greve.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Síndrome do Underground

Já há um bom tempo que eu ouço falar em uma tal de "orkutização".

Tom pejorativo, ar de elite, distanciamento de uma realidade da qual alguns negam tanto que parecem até que nunca tivessem se "orkutizado" na vida.

Posam com um ar de "too cool for the crowd", mas repetem as mesmíssimas coisas que o povão faz, mas com uma pitada de erudição que é mais maquiagem do que qualquer outra coisa (assim como estou tentando fazer agora).

Refletem todos os preconceitos de uma sociedade excludente, só esquecem de lembrar que muitas das vezes eles são os excluídos também.

Mas, por alguma diarreia mental, se colocam em algum lugar do qual não fazem parte e acham que o nível de "orkutismo" se baseia na capacidade de uma pessoa escrever e falar "corretamente", talvez com algumas tacadas de estrangeirismo pra mostrar que ser bilíngue é um "must".

Tem ciúmes de coisas que eles gostam. Só eles podem gostar daquilo, como se gosto fosse alguma espécie de regime de propriedade, onde só uma elite esclarecida pode ter acesso ao "bom gosto".

Choraram quando ouviram a Adele no rádio, pois ela havia "orkutizado".

Tudo que era até então "propriedade" deles, de repente os fez sentir como se tivessem se misturando com a gentalha, e essa estragaria tudo o que houvesse de melhor nessa vida (que obviamente, deve se restringir aos poucos e bons)

Em contrapartida, não esperam nem um segundo pra falar do "mal gosto da ralé", e como gostariam de um mundo onde apenas os cidadãos de "bom gosto" existissem.

Nessas horas eu é que não tenho vontade de me misturar com essa gentalha... vamos, tesouro!

sexta-feira, 30 de março de 2012

Sorria por quê?

E pra quem?

Outro dia estava numa loja qualquer olhando algumas coisas que eu já nem me lembro mais, e eis que de repente, bate em mim uma vontade corriqueira, porém levemente constrangedora a qualquer homem que esteja em um lugar público: aquela vontadezinha marota de coçar o saco. Discretamente, me virei para um canto onde não notariam o que eu estava fazendo e aí me deparei com aquela famosíssima placa que diz: "SORRIA, VOCÊ ESTÁ SENDO FILMADO".

Na hora me bateu um baita de um constrangimento. Pensei: "Não farei isso agora, vai que os caras que tomam conta das câmeras tão vendo e começam a rir da minha cara sem eu estar ciente...". Aguentei mais um pouco, e ao sair da loja pude finalmente me aliviar - obviamente de maneira discreta, não ia fazer tipo assim:


Depois de um tempo, comecei a refletir sobre isso: Pelo menos desde que o Rodriguinho e os Travessos começaram a fazer sucesso com "Sorria que eu estou te filmando, sorria o coração tá gravando o seu nome aqui dentro de mim ouw, ouw, ouw, ouwl, sorria que o prazer já vem vindo, sorria o nosso amor tá tão lindo, não quero ver você tão triste assiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiim" eu não me sentia tão incomodado ao ver uma placa dessas. Lembrei também que praticamente qualquer estabelecimento com uma estrutura considerável possui as tais câmeras de segurança.


Mas que puxa, será que todas as vezes que entramos numa loja, num prédio comercial, recepção de hotel, ou até quando estamos na rua somos alvo de alguma espécie de big brother para apenas algumas pessoas? Será que o nosso jeito de ser, de agir, que algumas vezes é espalhafatoso, mas dentro da "normalidade" vira um motivo de chacota pra pessoas que nem vemos, nem conhecemos? A que ponto somos tão expostos assim? Será que daqui a algum tempo, todos os lugares que iremos terão câmeras de segurança? Será que isso poderá nos convencer tanto de que é um instrumento em função do "bem comum"? Até que ponto a tal da prevenção não vira um negócio chamado "constrangimento"? E mais, quem é que está nesses lugares para garantir que estamos realmente seguros simplesmente por estarmos sendo filmados? E mais, por que deveriamos ficar felizes, se precisamos ser filmados em nome de uma (talvez) falsa segurança?

Na melhor das hipóteses, se isso tudo for realmente necessário, a presença das câmeras não me faz sorrir.
Me faz lembrar que todos nós temos que nos submeter a coisas desagradáveis porque nossa civilidade
parece ter morrido. Pior do que isso, nem pra coçar o saco eu fico mais a vontade.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Precocidade

Não é ciência, não é comprovado, não é nada, é só sensação.

Volta e meia nos pegamos meio incorfomados com crianças muito novas falando ou fazendo coisas "inapropriadas para a idade". Vemos a garotinha de 7 anos dançando funk na calçada da rua no melhor estilo Absoluta, o moleque de 8 falando um monte de palavrão, meninas de 12 anos grávidas, jovens de 14 falsificando carteirinhas de identidade para entrarem em lugares apenas permitidos para maiores de 18, jovens recém-chegados a adolescência envolvidos com drogas, bebendo pra caralho também, muitos loucos para dirigir, e blablabla. Achamos isso um absurdo, como se estivessem pulando etapas da vida e prejudicando seu crescimento. E isso acontece mesmo.

Mas será que esses são só "desvios", frutos de pessoas mal educadas e que não tiveram boas referências ? Eu não penso desse jeito. Acredito que a nossa própria sociedade dê alguns impulsos para essa tal precocidade, que na maioria das vezes não são vistas como males ou pulos na "escada do crescimento".

Outro dia fiquei sabendo que um menino de 8 anos fora inscrito num curso de empreendedorismo. Precisa dizer mais alguma coisa? Porra, o moleque tem só 8 anos, tem que ir brincar, aproveitar sua energia para viver seu momento de infância, sem preocupações demais. Como a cabeça dele iria suportar um curso desse tipo? É hora dele se preocupar com seus bonecos, sua bike, sei lá, mas já pensar em ser um empresário rico e bem sucedido nessa idade?

Crianças de dez anos são submetidas a intensas horas de estudo para passarem em concursos de bons colégios públicos. Será que é essa hora da pessoa enfiar a cara em livro pra estudar pra uma prova difícil?

Aos 17 anos, já temos que escolher qual curso queremos fazer na faculdade e qual profissão deveremos seguir. E se nos "atrasamos" para tal escolha, somos considerados velhos para o mercado de trabalho.

Para os atletas, é preciso despontar no máximo até os 20 anos. Se não, você não tem futuro, outros virão e te engolirão. Hoje mesmo eu estava assistindo a um jogo de tênis, pela FED Cup (competição internacional de tênis feminino) e a jogadora profissional brasileira tinha apenas 15 anos de idade.

A verdade é que vivemos numa sociedade onde ser infantil é visto como uma coisa ruim, atrasada, defasada. Obviamente, para adultos há situações onde atitudes similares a de crianças não são bem vindas. Mas parece que tal pensamento se expandiu para os mais jovens, e da maneira ruim. Quanto menos eles parecerem crianças, melhor.

A menina mais bonita da sexta série, é geralmente escolhida pelo tamanho dos seus seios. Os meninos de 11 querem saber quem já tem cabelo no suvaco ou no saco e se sentem fodas demais por isso. Simplesmente por estarem abandonando suas feições infantis e adquirindo feições adultas, que seriam consideradas superiores.

Parece que ninguém para pra pensar nisso, e só nos deparamos com a realidade, quando a coisa foge para o lado moral/sexual. Não tenho certeza, mas parece que o resultado disso são adultos ranzinzas, sem espírito esportivo, e que acham qualquer coisa que você faça que pareça infantil uma imensa bestialidade. Ou seja, te acham um imenso idiota só porque você falou que a Luiza estava no Canadá. (Mas jogam RPG on line, isso pode, ninguém está te olhando.)

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Michel Teló e já fomos mais inteligentes

Parece que às vésperas de cada carnaval escolhem uma música "chiclete" para ser o hit do momento. Outrora já ouvimos o melô da Mulher Maravilha, Festa no apê, Tô nem ai, Segura o tchan, Cada um no seu quadrado, alguma música do Chiclete com Banana, outra da Ivete Sangalo e por ai vai. Todas, em minha humilde opinião, muito ruins. Músicas do tipo "Bicicleta Ergométrica", que não te levam a nada, nem a lugar nenhum. Mas vá, tem gente que gosta, não vou ficar apontando a cara de ninguém e falando "Você é um idiota por ver graça nisso". Se for para falar mal, faremos criticas e não xingamentos (apesar de alguns seres humanos clamarem por isso, mas não percamos a compostura).

Até então tudo bem. A galera curtindo os hits, uma outra parte nao curtindo, outros dando risada, alguns ficando bêbados ao som deles e zaz. Os sucessos entravam, ficavam nas nossas cabeças por bem ou por mal durante um looooongo tempo e depois saíam. Repercussões de nível nacional, matérias com os artistas, seus nomes em tudo que é tipo de mídia. Até ai nego tava levando de boa.

Eis que surge um alieníngena de cabelos loiros e uma voz um tanto familiar que estoura como hit do próximo carnaval: É ELE, O INCRÍVEL MICHEL TELÓ, COM SEU SUPER-HIT "AI SE EU TE PEGO". Na maioria das mentes, este seria o hit do Brasil no momento. E foi. Mas não só do Brasil. A música ganhou o mundo. Ganhou até os super jogadores de futebol, como o português Cristiano Ronaldo, jogador mais famoso do Real Madrid. Não só ganhou o mundo, como ganhou versões em Inglês, Chinês, Alemão, Holandês, Espanhol, Búlgaro, Finlandês, Italiano, Portunhol, Russo e Simlish. A dancinha já virou regra em toda festa em que a música toca. Esse foi o diferencial.

E até então, o máximo de reclamações de hits desse tipo foram "Eu aqui ralando e o cara ganhando dinheiro mole". Mas sem muitas contestações ou revoltas. Só que ai cruzou as fronteiras do país, e como diria o meme, AGORA A PORRA FICOU SÉRIA! O que choveu de "Caralho, que lixo, que bosta", "Como isso pode ir parar no exterior?" "O que será que vão pensar da cultura brasileira?" "Nossa pobreza está sendo exportada" e o mais famoso "Já fomos mais inteligentes!".

A galera que tá se sentindo incomodada com o fato de um brasileiro estar fazendo sucesso no exterior com uma música que julga "sem conteúdo" precisa pensar em algumas coisas. Pensemos que você vá a uma boate, e dai você ouve aquela música que toca muito na Mix FM, na qual o cantor sempre repete: "Give me everything tonight, give everything tonight...". Ou na Shakira, que ensandecida, não para de dizer: "I'm crazy but you like it, loka loka loka". Ou mesmo na Lei de Gaga, que diz para você não parar de dançar, porque vai ficar tudo bem (repetidamente). Ou pense mesmo naquela bela canção que abriga o post anterior desse blog. Não dizem absolutamente porra nenhuma, assim como "Nossa, nossa, assim você me mata. Ice eu te pego". Então, qual é a diferença? Se você vai à boate e se acaba com uma música do tipo "Like a G6" , qual o problema de alguém fazer o mesmo com a música do Michel Teló? Se não gosta, ok, fale mal, mas criticamente. Mas vir com papinho de "ah, isso mostra o que o Brasil é, bando de analfabeto que se acaba com qualquer merda e blablabla" é muito Carlos Nascimento, amigo. Volta pra tua cerveja ai.